sábado, 9 de janeiro de 2010

Virgolândia - Minha terra natal


Pé de manga - Ilustração     -  

Virgolândia... pequeno município, situado na região leste de Minas Gerais a 100 km de Governador Valadares.
Possui menos de 10 mil habitantes. Nesse lugar, nasci e vivi até meus quinze anos.

As vezes não compreendo bem, como poucos anos vividos em um lugar, influencia e faz a diferença na vida de uma pessoa...
Creio que a semente lançada em determinado solo, a raiz, a planta que
brota será de acordo com a terra... e ali você está ligado. Será sempre o seu lugar. E você nunca esquece de onde veio. Muda-se e vive-se durante dez, vinte, trinta anos em outros lugares, mas aquele é, e sempre será a sua terra.

Então, ali vivi a minha infância, apesar de naquele tempo me sentir tolhida nos meus anseios e desejos infantis, hoje me recordo com alegria os momentos e anos que passei lá.
Vida de criança em cidade do interior na década de 60 e 70... Não teve tanta facilidade, como hoje. Mas as dificuldades encontradas nos caminhos fazem a gente crescer... Vamos construindo nossa vida tijolo por tijolo, sólida.

O ar puro, o cheirinho da terra molhada após a chuva, o barulho da chuvinha sobre o telhado, as pedrinhas cuidadosamente escolhidas para a brincadeira do "belisco"...

O meu jardim... de uma erva que eu conhecia como "colchão de noiva" verdinha viçosa, macia. Passava horas e horas ao lado daquela cisterna, cuidando dele (do jardim), tirando os matinhos que cresciam junto. Cuidando dos boizinhos feitos de maxixe, fazia as perninhas de palito de fósforo. Construía as fazendinhas de palitos de picolé debaixo do pé de manga espada... a manga espada mais gostosa que eu já comi em toda minha vida...

Levantávamos, pela manhã e corríamos para pegar as mangas que haviam caído à noite... Era uma corrida de quem chega primeiro, para alcançar a mais bonita, a mais madura. O balanço de cordas nesse mesmo pé de manga... Sentia como se tivesse numa roda gigante...
A casinha de brinquedo no fundo do quintal. A brincadeira de boneca, de comadre. O meu canteiro de alface na horta de minha mãe. Enquanto ela cuidava da sua horta, eu cuidava do meu canteirinho e dele, colhia as alfaces para colocar no meu prato (não gostava de verdura, mas comia porque era do meu canteiro). Foi uma vida comum de criança do interior. Arrumava para ir para a escola...

Foto retirada do Google
Sexta-feira o Hino Nacional... a musiquinha oficial do clube de leituras: " Eu me lembro, eu me lembro era pequeno, e brincava na praia o mar bramia..."

E a correria desembesta da criançada no recreio.
No dia da árvore, 21 de setembro... Comemorávamos, lançávamos a sementinha ou uma muda de árvore no pátio da escola, cada um queria regar um pouquinho a semente ao som da música entoada por todos ali presentes... "Dorme sementinha, fica bem quietinha,... já não te abandono, virei todo dia, sobre o seu canteiro, jogar água fria..."

E os dias 7 de setembro - Independência do Brasil, nossas mães confeccionavam nossos uniformes de papel crepom verde e amarelo para o desfile, desfilávamos como verdadeiros estadistas, determinados, cheios de patriotismo. Ao final nos encontrávamos suados, pelo desfile sob o sol escaldante e aquela roupa de papel crepom, começava a se desfazer... (usávamos shorts por baixo)... E ali havíamos cumprido nosso dever de brasileirinhos, todos orgulhosos, cansados e felizes, voltávamos para casa.

A noite, nossas mães sentavam nas cadeiras nas calçadas, e ali conversavam, e nós aproveitávamos para brincar de pique esconde, de pula corda, de apostar corrida, de bambolê, que fazíamos de mangueiras coloridas e dentro delas colocávamos pedrinhas para fazer barulho; o jogo de bioquê - eu era craque.

Desfile de rainhas... Meu Deus, era muito bom; a banda de música na semana santa, no carnaval, era só alegria; a brincadeira de roda... "plantei um pezinho de alface, a chuva quebrou um galho" e...
Já com 13, 14 anos o coração já começava a palpitar pelo primeiro amor, amor de adolescente daquela década... A pureza... Amor de sentir satisfeita somente de ver o amado pela fresta da janela. O coração batia forte, e se visse frente a frente, o coração acelerava, o rubor no rosto, as mãos gelavam, a dor na barriga... Mas ia dormir feliz, viu o "namorado"!... E o amado nem sabia que estava namorando!... rsrsrs

E os pensamentos corriam soltos, e os sonhos eram acordados.

Vida de infância, de adolescente em minha cidade natal, cidade das cachoeiras que viravam toboágua pra nós. É a criatividade de quem não ganha tudo pronto, tínhamos que construir para brincar... Assim foi a vida da maioria dos brasileiros que viveram em cidades interioranas;
E assim foi minha vida na minha cidade...

Virgolândia é o seu nome.