sábado, 30 de janeiro de 2021

 

Sei que vou me acostumar...


Sábado à tarde... Sozinha na varanda, pássaros cantando, o sol ainda forte, vez ou outra passa uma briza suave trazendo uma sensação gostosa de frescor. Os pensamentos correm soltos...

Como assim? Os filhos longe, cada um em sua casa... A casa vazia, os quartos, as camas arrumadas. E aquela correria, as brincadeiras, os gritos, as rizadas, os choros... onde foram parar?


O ninho ficou vazio!

Tudo está diferente...

Copos, pratos  sujos de restos de comida no quarto, agora limpinhos no armário... As roupas, as toalhas jogadas em um cantinho do banheiro ou do quarto... e eu desesperada quardando , arrumando... falando, brigando...

Abraços de chegada, abraços de despedidas...

E agora, tudo nos devidos lugares...


Isto é bom? Sim às vezes gosto deste silêncio, meu marido e eu, um tempinho
para nós, nossos afazeres, nosso trabalho, nossa caminhada...

E o vídeo game na mesinha, quase o tempo todo ali exposto esperando pelas mãos hábeis!... A mesinha está vazia, limpinha, arrumadinha...


Mas... Este tempo todo para mim, para meu marido... tudo do nosso jeito, tudo bem arrumadinho nos seus devidos lugares. Precisamos disto tudo? Este silêncio. Às vezes incomoda.

Não!!! Incomoda muito... Quero ouvir o barulho, quero ver a casa desarrumada, quero a correria, quero o cheiro, quero ver os sorrisos e até os choros... Quero ver os erros e acertos. Quero ver os amigos e amigos dos amigos deles chegando e saindo... Mas quero o barulho dos meus filhos!... 

Quero sentir os abraços de despedida, mas quero também sentir os abraços de chegada.

Preciso de um tempo para me acostumar com este novo viver.


Tudo é perfeito. Sei que vou me acostumar. Já venci tantas etapas. Quando foram para o prézinho, as mãos que pegavam já não eram só as minhas. Quando iniciaram na escola, parecia que estavam sendo arrancados de mim. Quando chegou a adolescência, começaram a  ver que haviam mais vidas e verdades além das nossas. Quando completaram a maioridade, pensavam que já eram auto-suficientes, mas ainda estavam comigo. Quando ficaram sozinhos em outro país (com Deus na verdade), e passaram por tantas  lutas que só gente grande é que passa e cresceram com isto. Quando fizeram suas escolhas...
Em todas estas etapas houve choro, muito choro... Depois vieram os sorrisos.

O que aprendi, é que temos que valorizar todo o tempo, todas as oportunidades, e estar juntos, e abraçar, e dizer o quanto nos amamos... E deixar o tempo passar...

Chorar... Sim faz parte. É mais uma etapa que acabou... 

Iniciando outra.

Sei que vou me acostumar...  Só mais um tempinho e tudo fica normal.