terça-feira, 12 de agosto de 2025

MEU PAI...

"Orem ao grande Pai por seu Pai... Às vezes ele não sabe ou não soube da grandeza de sua missão aqui na terra mas a executa mesmo sem saber... Toda uma geração receberá aquilo que foi designado por Deus o nosso grande Pai, nosso provedor de tudo em todos ..."
Estas palavras acima, foram escritas por meu irmão, no grupo da família, hoje... Palavras sábias.

Pois é...
Estávamos conversando sobre nosso pai, José Vicente para uns, José padeiro para outros... e José Claudino para nós, os filhos. Homem com a cara de bravo, sem diálogo com a família, muitas vezes falava aos gritos... Homem de pouca conversa. Mas, de vez em quando conversava manso e sorria... Falava sobre histórias da vida e até contava algumas piadas...

Descobrimos tanta coisa linda, que estava diante de nossos olhos e não percebíamos...

A gente passou a vida toda focando nos problemas familiares...
Nosso pai era daqueles homens que não sabiam demonstrar sentimentos... Penso que muitas vezes deve ter chorado sozinho... Por ter que ser aquele homem forte, que precisava dar conta de oito filhos em uma época tão difícil para quase todos...

Focamos nos gritos, na falta de diálogo, nos problemas entre o casal, pai e mãe...
E esquecemos do sacrifício para dar o sustento e estudo para os filhos; era o que ele achava muito importante para nós... Onde sem condições, e ouvindo de amigos que filho de pobre não precisava estudar... Mas teimando mandou meus irmãos mais velhos para Itambacuri, na casa de seus pais, para fazer o segundo grau, pois em nossa cidade só tinha até a oitava série... Meu pai era ESFORÇADO.

Quando chegou na época dos demais continuarem, ele precisou deixar tudo e sua estabilidade como um grande comerciante, dono de uma bela padaria, e se mudar com toda a família para Governador Valadares... Começando tudo de novo. Onde deu a primeira estrutura para que todos os filhos continuassem a trajetória...

Hoje lembramos de que ele todo mês comprava uma revista Pais e Filhos, uma revista Manchete e todo ano ele adquiria um Almanaque Abril, onde continha conhecimentos gerais... Sem uma palavra, ele nos deu educação e as condições necessárias, para fazer nossos trabalhos escolares... A gente cortava aquelas lindas gravuras das revistas, para fazer cartazes e trabalhos escolares, dias das mães, dia dos pais etc...
Lembro que muitos colegas iam em nossa casa para fazer os trabalhos. A gente tinha muito material. Ele não se importava da gente recortar...

Meu pai sem dizer nada comprou uma máquina de escrever (datilografia), comprou também um manual que ensinava a datilografar... "asdfg", quem se lembra?...
E para que pudéssemos fazer os nossos trabalhos escolares. Naquela época em que essas máquinas, somente eram vistas em locais de escritórios e em serviços públicos. A gente tinha a nossa própria máquina. Meu pai era um VISIONÁRIO.

Já vi meu pai saindo de bicicleta para vender algumas coisas que havia sobrado do seu comércio, para pagar uma mensalidade escolar de minha irmã... Depois o vi vendendo a máquina de escrever para pagar outra mensalidade da mesma irmã que estudava no ETEIT. Meu pai fez muita coisa por nós e a gente não via... Ele nos AMAVA...

Ao separar de minha mãe, ele vendeu nossa casa, e sem necessidade de advogado, pegou todo o dinheiro, dividiu em duas partes iguais, ficou com uma e entregou a outra parte para minha mãe, que investiu imediatamente em outra casa para nós. E com sua parte, adquiriu uma casa pequena em um lugar distante... Ele a aumentou, pegando areia no rio, fazendo tijolos de blocos de cimento para construir parte da casa... Ele sempre contava isto com alegria, e eu sentia orgulho dele... Meu pai sempre recomeçava.. Ele ACREDITAVA.

Por onde ele passava, ele próprio construia o forno de tijolinhos, para assar suas massas... pães, bolos, bolachas, tarecos, pudins... e tudo com uma criatividade incrível... Fazia pães em formatos diversos: Jacarés, cobra, peixe. Ele era um ARTISTA.

Foi dono de um time em Virgolândia... Ramalhete Esporte Clube... Tinha em nossa casa, um quarto, onde ele guardava material esportivo... Quatro jogos de camisa de futebol, meiões, tinha até uma rede de volei, tinha várias bolas, de futebol, de volei... Meu pai era um DESPORTISTA...

Já o vi acompanhando um amigo bem mais jovem que ele, e como crianças, destruíram uma casa de maribondo... Aiaiai, quase toda a população foi picada pelos bichinhos... foi uma algazarra só... Soltaram balões a gaz... Isto na década de 70... Meu pai era DIVERTIDO também, e gostava de brincadeiras como uma CRIANÇA.

Mas foram tantas coisas que a gente lembrou que ele fazia... Que achamos injusto, focar em coisas negativas e por apenas não saber se expressar... Ele sabia SER.

Ele falava com as atitudes... Ensinava sem dizer palavras... Amava sem se expressar... Cumpriu sua missão de pai...

Hoje sabemos que nosso pai foi um grande homem...
Ah! se ele estivesse aqui hoje, para a gente falar sobre todas essas coisas... Conhecê-lo mais de perto.... Poder abraçar e dizer que o AMAMOS MUITO!...

GRANDE ZÉ VICENTE... JOSÉ NOS ENSINOU TUDO, JUNTO COM NOSSA MÃE, MARIA!