sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Rio de lama, o nosso Rio Doce. Parte II

Parte II.
Acordei no outro dia tranquila, mas rápido meu pensamento se voltou ao problema da água. Corri lá na torneira, abri e nada, nem uma gota. Há meu  Deus e agora!.
Liguei a TV no Balanço Geral da TV Leste (lembrando que a cobertura foi excelente e de muita responsabilidade, ajudou  muito e informou bem a população, amenizando um pouco mais a situação. Toda produção bem como, o apresentador Ricardo Assunção estão de parabéns). E só falavam sobre lama, todo noticiário era sobre a queda das barragens.
Era assustador.

Nas ruas, pessoas assustadas, comprando água mineral, passando com caixas d'água, carotes em cima de caminhonetes. O movimento era grande.
Já em minha casa, parecia que a única preocupada era eu.
Falava com meu marido: O problema é real, precisamos tomar providências. Ele insistia em dizer que nada aconteceria.
Tinha dois vasilhames cheios de água mineral estocada, mais um, em uso.
Liguei para comprar mais, o rapaz disse que havia acabado, liguei para outro e mais outro e nada.  A resposta era que chegaria segunda-feira, estávamos na sexta-feira.

Os caminhões com água potável da Samarco (mineradora responsável pelo desastre ambiental, junto a Cia Vale), eram visto em todos os lugares, menos em nossas casas. A água não aparecia. Víamos entregas em algumas casas, alguns restaurantes, mas para população em geral, nada. A cada dez minutos, um recipiente era esvaziado, em minha casa. Na quarta-feira seguinte, já não tinha água no reservatório de mil litros. -Mãe, como vou tomar banho? pergunta o filho mais novo. -Pega uma garrava pet, serão só dois litros de água por banho, somente uma vez no dia. Respondo.
Se não fosse trágico, seria cômico. Cada um, à noitinha pegava sua garrafa pet e ia para o banheiro , banhar-se. No fundo não conseguia conter o riso da situação, porque realmente era engraçado. Eu não conseguia acreditar no que estava vivenciando.

Corremos ao Supermercado, procurando copos, pratos e talheres descartáveis, não encontramos. Meu marido saiu para procurar. Enchemos um carrinho de supermercado de água mineral engarrafadas, a contra-gosto do meu marido, e trouxemos.
As poucas vasilhas que sobravam para serem lavadas, eram como em tempos remotos, lavava em bacia e enxaguava em um balde. Pensei em sair da cidade, ir para casa de minha irmã em Itaipé, cidadezinha próxima à Teófilo-Otoni. Eu estava estressada, cansada e triste.

Enquanto isso, passava a maravilhosa novela bíblica "Os dez mandamentos" na Record. mostrava o povo Hebreu no deserto, sofrendo, clamavam a Deus e eram respondidos. Aquela fé dos hebreus, despertou a fé nos valadarenses. Eles se reuniram na praça dos pioneiros e de joelhos clamavam a Deus. Alguns pastores foram até ao Rio Doce, usaram a fé e ali clamaram, também à Deus... Pediram para curar o nosso Rio Doce -  Jesus é fonte da vida.

Eu sabia que algo iria acontecer.

Era sexta-feira, um policial era entrevistado na TV Leste. Até esse momento não havia nenhuma novidade boa. A conversa é que não sabiam quando a cidade iria voltar à normalidade. No finalzinho da reportagem o policial disse que havia uma pesquisa sobre um produto que poderia limpar o rio em minutos.
A esperança começava a voltar...

A noite, choveu muito, aparamos água da chuva para usar nos vasos sanitários.
Agradecemos a Deus pela resposta. Nunca uma chuva foi tão bem recebida como aquela. Nas ruas as pessoas gritavam de alegria, "Obrigado meu Deus"!...

No sábado, meu marido já preocupado com a situação, saiu cedo para procurar água em poços artesianos. Chegou mais ou menos quatro horas da tarde em um carro repleto de água...
À noite, cansados, mas com a casa abastecida de água. Dormimos...








Oração dos Hebreus nos deserto.
Image result for oração dos valadaresnses na praça dos pioneirosOração dos Valadarenses na Praça dos Pioneiros.



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