quarta-feira, 1 de março de 2017

Série - Meus Testemunhos de Vida - Meu primeiro Emprego, um milagre!



            Estava com dezenove anos, precisava trabalhar para pagar minha escola e de minha irmã. Meus irmãos mais velhos que já trabalhavam e que vinham pagando nossa escola, disseram que no ano seguinte, não iriam mais bancar. Vivíamos tempos difíceis. O acesso às escolas públicas era praticamente impossível. Eu afirmava para minha irmã Helena, que não precisava se preocupar, eu pagaria a sua escola e a minha no próximo ano. Eu falava aquilo sem duvidar, ignorando todas as dificuldades.
Não tinha salário, pois trabalhava para o meu pai, que a esta altura tinha um depósito de pão no bairro onde vivíamos.

Procurando serviço... Era setembro de 1978. Adentrando no serviço de água da cidade – o SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto, meus olhos saltaram de alegria. Que lugar lindo!  Desejei ardentemente trabalhar naquele local. Era uma autarquia municipal, eu não tinha noção do que eu precisava fazer para trabalhar ali. Era um prédio moderno, com um jardim delicadamente cuidado. Árvores podadas em formato arredondadas e um lindo e grande pé de flamboyant, a árvore mais linda que já vi até hoje. O chão estava repleto de flores vermelhas - as flores do flamboyant, dando-me as boas-vindas...
SAAE - Imagem retirada do Facebook
Mas precisava fazer concurso público. Eu era inexperiente. Já havia feito alguns testes em alguns lugares, mas nada como um concurso público.

Pedindo informações, disseram-me que até aquele momento não tinham previsão de quando seria o próximo concurso...

Mas, incrivelmente, depois daquele desejo ardente... não é que abriram vagas e dentro de dois meses, estava tudo certo. Passei no meu primeiro concurso público.

Era novembro de 1978. Eu precisava urgente começar a trabalhar, para no próximo ano fazer minha matrícula e de minha irmã na escola, como havia prometido. Também já não queria estudar naquele colégio onde estudava. Queria passar para uma escola melhor. Eu sonhava estudar no Clóvis Salgado, uma escola pequena, mas muito aconchegante, era como uma família. Tinha um belo time de vôlei feminino, com jogadoras reconhecidas na cidade. Era época dos famosos jogos estudantis, torneios que movimentavam a juventude Valadarense...

Retirada do facebook - Vista interna Clovis Salgado 
Mas eles não me chamavam. Minha mãe se desesperava. Meu Deus! Como vocês vão estudar? Eu afirmava, desconhecendo como funcionava as instituições... Vou começar trabalhar mãe, e vou pagar para mim e para a Helena. Pode ficar tranquila. Já passei no concurso. E falava aquilo com convicção e segurança...
Toda semana ligava para  o departamento de pessoal, cobrando minha vaga. - “Aqui, e a minha vaga?!...”
Passei em 5º lugar e precisavam de sete pessoas, de acordo com o edital.  
-“Eu estou precisando de trabalhar, para pagar minha escola e da minha irmã”, insistia... E isto se repetia em todas as semanas subsequentes...

Depois de já estar trabalhando ali no Setor de pessoal algum tempo, minha colega, confessou-me sorrindo, algo que me surpreendeu. Ela disse: Cida, o senhor Xxxx, (o chefe administrativo), pediu para arrumar uma vaga para você de qualquer jeito, porque você era muito chatinha, ligava toda semana cobrando sua vaga, acrescentando, que eu não os deixava em paz...
 Uaw! E eu pensava que tinha direito à minha vaga!... Sorri!

Descobri mais tarde, que várias pessoas eram contratadas sem terem prestado concursos, eram conhecidas do diretor... 

As aulas começariam em março, por causa das férias prolongadas e do carnaval.

Em 31 de janeiro de 1979, iniciava em meu primeiro trabalho, concursada.
Inexperiente, sem saber como era trabalhar fora do ambiente familiar... Cheguei humilde, tímida, mas muito feliz pela grande conquista!

            Trabalhei nos melhores setores, primeiro no Departamento de Pessoal, por dois anos e os outros quatro anos no Departamento de contabilidade. Aprendi muito. Fiz amizades verdadeiras.

Muitas meninas que já trabalhavam ali antes de mim, perguntavam-me: Como você conseguiu iniciar nesse Setor ( Departamento de Pessoal)?!... Você já conhecia alguém para te dar essa função?!... A gente já está aqui há tanto tempo e nunca tivemos oportunidades!... Elas trabalhavam no Setor de Arrecadação. Não era pior do que o meu, não!...

Era somente o primeiro lugar onde se iniciavam, dali algumas saíam para outros setores mais especializados e que davam mais experiências.... Todas, com mais tempo de trabalho, queriam chegar onde eu já estava... E eu era a última contratada.

Não, eu não conhecia ninguém, para me dar aquela posto. Dentro de mim, eu tinha certeza que Alguém me via e Se movia em meu favor... Sabe quando você tem um infinito inteiro em sua volta de amparando?!  Assim eu sentia... Este infinito era DEUS!

No início de março de 1979, recebi o meu primeiro salário. Tive o dinheiro suficiente para fazer as respectivas matrículas e pagar as mensalidades na Escola Clóvis Salgado, minha e da Helena. Quatro valores de uma só vez. Sobrou pouco dinheiro para mim naquele mês, mas estava tão feliz!...

 Neste momento, a alegria invade minha alma e sinto aquela sensação daqueles dias, e vejo o INFINITO me envolver...

Reiniciamos na escola que queríamos e sem depender de ninguém.

Então esta foi uma linda experiência. Não conhecia Deus, através da Sua Palavra. Mas O conhecia na simplicidade, no verdadeiro, na sinceridade, na gratidão e na fé prática... Pois tudo o que fiz, para conseguir aquele trabalho, foi tomando atitudes e crendo que conseguiria, em nada duvidando...

Tinha os bons olhos, cria nas pessoas e em tudo que me apresentavam, sem preconceito, sem julgamentos. E isto me aproximou do meu Senhor e Ele satisfez os desejos do meu coração.


Não foi sempre assim. Todas as vezes que me afastei, deixando de ver com os bons olhos e de ser humilde, nuvens escuras apareceram em meu caminho...

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